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domingo, 13 de setembro de 2015

A NUDEZ NAS ARTES E NAS RELIGIÕES



Bronzino 



Rubens.
Desenho de Romeo Zanchett 


A ARTE É A LINGUAGEM UNIVERSAL DAS IMAGENS
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                  Muito se tem discutido sobre a nudez. Pode ser arte, protesto, publicidade e até informações religiosas. 
                  A nudez é linda, mas precisa ser criativa para não se tornar ruim com sua banalização na mídia, principalmente publicitária. O nu feminino é vendido como se fosse um produto de feira. Mas isto acontece porque a sensualidade está dentro de cada um de nós que somos escravos dos nossos hormônios. A verdade é que, mesmo as pessoas que a censuram, gostam tanto quanto os outros. 
                  As redes sociais estão cheias de fotos com homens e mulheres nuas e dão grande trabalho às administradoras que tem verdadeiros exércitos de sensores para bloquear contas que consideram certos conteúdos como inapropriados e em desacordo com as chamadas políticas de condutas. 
                  O nu artístico também foi muito explorado pela Igreja Cristã, principalmente na época do Renascimento. Praticamente todos conhecem alguma obra de pintores como Rubens, Miguel Ângelo, Botticelli, Corrégio, Ingres, Ticiano, Cranack -com Adão e Eva- , além de outros. Mas para quem pensa que naquela época não havia censura, é bom saber que muitas obras primas foram julgadas e destruídas. Quem não viu falar da Inquisição? 
                  Para Adão e Eva, tomar consciência da própria nudez foi um ato de punição. Ao dar uma "mordida no fruto proibido" eles logo sentiram vergonha, fraqueza e derrota diante de si próprios e de Deus, segundo a história bíblica.
                  Apesar da ligação estreita com a vergonha e fraqueza, não se pode dizer que essas sempre tenham sido as consequências dos corpos despidos. Ao longo da história humana, em diversos contextos, a nudez  do corpo também já expressou medo, orgulho e prazer. No épico "Odisseia", o grego Homero descreve o náufrago Ulisses em apuros diante do nu da princesa Nausícaa e, no final, gostou muito do que viu. 
                  Sigmund Freud, pai da psicanálise, em seu esforço para desvendar o inconsciente humano, disse que o sonho de estar nu em público é comum a todos os seres humanos. 
                  A verdade é que, em nossos dias, a nudez está em toda a parte. Ela é vista em novelas, no teatro, nos filmes, na publicidade, na literatura e na palheta dos artistas. Mesmo assim muitos artistas - atrizes e atores - se dizem constrangidos em tirar a roupa. Muitos até se arrependem amargamente por cenas de sexo que fizeram. Quando uma cena de sexo é mal feita fica pornográfica e quem está nu é muito mais exposto. Muitos artistas cênicos se reservam, por contrato, no direito de veto das cenas que considerarem inapropriadas, mas isto também é uma forma de censura. 
                  Na segunda metade do século XX a nudez aparece como forma de protesto social com os movimentos hippie e beatnik. Já nos anos 80, envolvendo pessoas nuas, surgem os protestos sociais de ONGs e entidades humanitárias.  Todos os anos, nos Estados Unidos e Europa, mais de 100 calendários beneficentes com pessoas nuas são lançados. Os motivos alegados são os mais diversos. Ajuda de desabrigados e menores carentes; combate ao câncer; proteção à fauna e à flora e aí por diante. Ficou bastante conhecida a foto de John Lennon e Yoko que, em campanha pelo vegetarianismo, apareceram nus na capa do disco. 


                 No início dos anos 90 um grupo de feministas americanas, lideradas por Andrea Dworkin e Catherine McKinnon, conseguiu aprovação de uma lei no estado de Indiana, banindo todo o tipo de material que mostrasse a sua alegada "subordinação gráfica e sexualmente explícita de mulheres, em palavras ou imagens".   A lei foi contestada na Suprema Corte americana, que a declarou inconstitucional, por ferir o direito básico de liberdade de expressão. 
                 A história da arte universal sempre foi pautada por polêmicas dessa natureza. Obras primas foram objeto de censura em diferentes épocas. Quando Miguel Ângelo estava finalizando as pinturas da capela Cistina, um dos assessores do papa Paulo III advertiu Sua Santidade de que as imagens do Juízo Final  eram mais adequadas a uma taverna do que a uma capela. Naturalmente o gênio Miguel, que era rebelde, recusou-se a modificá-las. Em 1558, véus e folhas de parreira foram acrescentados a elas. Recentemente essas indevidas intervenções foram retiradas por habilidosos restauradores e a originalidade do célebre artista finalmente venceu o preconceito. Também a Vênus de Milo, considerada o ideal de beleza feminina da antiga Grécia, foi "condenada" como imoral num tribunal alemão. Isto se deu em meados do século XIX. Absurdos como estes continuam acontecendo em nossos dias. É o caso recente do primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi que mandou encobrir o seio de uma figura alegórica pintada por Giovani Battista Tieplo do século XVIII, que adornava sua sala. Acredito que já foi restaurada, ate porque o referido político é um falso moralista. 
                  Sempre que alguém quer censurar uma obra de nudez apela para o argumento de diferenciar o "nu artístico" do "nu vulgar". Evidentemente que esse argumento é um absurdo, pois nu é simplesmente nu e não há como diferenciá-lo.  A esse respeito assim se manifestou o famoso crítico inglês Kennet Clark: "Se um nu deixa de despertar no espectador um vestígio de sentimento erótico, por menor que seja, ele não é apenas arte ruim como falsa moral". Também a crítica americana Camile Paglia afirmou que a grande arte não se mistura apenas ao erotismo, mas, em certas ocasiões, também à pornografia. Isto acontece sempre que o artista tem a coragem de mostrar as forças extremas do Instinto e da sexualidade atuando por baixo das convenções sociais. 
                   Somos seres humanos, mas em nós habita o ser instintivo ancestral de todos os viventes da terra. 
                  
Nicéas Romeo Zanchett 

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